20 setembro 2006

A justiça tarda mas não falha

Lembro-me perfeitamente da desconfiança com que foi recebida a notícia de que o treinador do Imortal, Mário Palma, havia sido contratado pelo Benfica.
Nos 7 anos que esteve à frente da equipa, venceu 5 campeonatos, 5 ou 6 taças de Portugal e 5 ou 6 taças da Liga. Além disso, elevou a equipa a um patamar europeu inimaginável. Recordo que anteriormente ao Mário Palma, as provas europeias eram quase consideradas como um prémio para os jogadores das equipas melhor classificadas na época anterior.
Ainda assim, a desconfiança ia permanecendo. Nesses tempos ouvi de tudo. Ouvi, por exemplo, que com aqueles jogadores qualquer um ganharia (o que até podendo ser verdade, não retira mérito ao treinador porque, a ser assim, pelo menos não estragou). Cheguei a ouvir também que o grande mérito era do Mário Gomes pois ele é que seria a pessoa que preparava realmente a equipa. Enfim, tudo servia para menorizar a quota parte de responsabilidade do treinador no sucesso da equipa.
No início houve até desconfiança por parte dos seus colegas treinadores, nessa altura, ainda mais corporativistas do que actualmente.
Mais tarde, e apenas quando foi campeão pelo Estrelas da Avenida, vi-lhe ser reconhecido o valor que ele já há muito merecia.
Ao Mário Palma atribui-se uma frase que não será dele mas que era por si utilizada frequentemente. "O Ataque ganha jogos, a defesa campeonatos". Nem mais, era precisamente aí que residia o segredo do sucesso do Benfica. Defender até à exaustão. Ofensivamente, o valor do Lisboa e do Jacques garantiam o resto e atenção que não era fácil jogar contra equipas que preparavam defesas especiais a estes jogadores. Lembro-me que na altura os jogadores detestavam treinar 5-0 e o Mário Palma repetia "Treino é repetição".
No banco, ele não era apologista de grandes rotações, achava que quebrava o ritmo de jogo e julgo que não deveria ser fácil sentar aqueles grandes jogadores por largos períodos de tempo no banco quando, na verdade, eles cumpriam e muito bem.
A sua voz grossa e rouca era bem audível nos pavilhões. "Hey" era proferido por ele entre 35 a 45 vezes por jogo. Não raras vezes temi por ver uma apoplexia no banco do Benfica... e a equipa ganhava quase sempre.
Nesta foto, podemos ver o Mário Palma a dar indicações ao Lisboa (ou seria o contrário :) ), mas o mais habitual seria vê-lo a dar indicações ao Pedro Miguel, o jogador certinho, cumpridor à risca do plano de jogo.

12 comentários:

João Tomaz disse...

Faltou-me referir, entre outras coisas, o seu péssimo gosto para gravatas.

Anónimo disse...

E o do Mário Gomes, não? ;)

João Tomaz disse...

O do Mário Palma é insuperável...

Pedro Neto disse...

Que saudades desses tempos!

Anónimo disse...

Caro Pelicano: antes de mais que felicita-lo pelo fantástico blog que só hoje conheci mas já é um dos meus preferidos.
Sou amante há muitos anos de Basket e durante alguns anos joguei até aos cadetes no Queluz (a minha terra) logo só poderia ser amante de Lisboa e Compª. Lembro-me desses tempos onde assisti no velhinho pavilhão de Queluz sentado na atrás das tabelas ao titulo em 83 com Lisboa, Rui Pinheiro, etc.
Claro como socio benfiquista os anos 80 e 90 foram um autentico regalo. Tivemos a melhor equipe de sempre do Baket português (penso que nunca mais haverá outra igual) que só não ganhou nada a nivel Europeu por quer falta de estruturas (bom pavilhão, gestão profissional e principalmente porque nunca houve um real apoio á modalidade).
Os jogadores falerei mais tarde (todos fantásticos) mas em relação ao Mario Palma (o Filmes) confesso que apesar de lhe reconhecer grande capacidade e mérito nunca foi o meu preferido. Tem razão a dizer que ganhou e sabia lidar com os varios craques (principalmente com Pedro Miguel e Lisboa que se calhar não sabia tinham uma relação um pouco tumultuosa), mas não pode deixar de ver que de facto não era muito dificil ganhar com aquela equipe. Bastava gerir o grupo e isso fazia ele bem. Tinha o grande merito de estudar os adversários até á exaustao (é historico em 92 depois de perder os 2 primeiros jogos na Luz com a Ovarense ficou uma semana quase sem dormir a preparar uma defesa especial para Ovar que baralhou complectamente o Luis Magalhães ganhando o titulo no jogo 5 - Luz á pinha vi em pé o jogo), mas ainda hoje penso que com um treinador como o Prof. Jorge Araujo (grande sr. do Basket apesar de tripeiro) tinhamos ido mais longe a todos os niveis, mas que é um grande treinador é

P.S- Para mim o grande pecado foi em 96 (derrota ainda não explicada com os Andrades mais por pouca motivação dos jogadores) com o desmembrar da equipa (saem Lisboa, Jacques, Guimarães, etc) não aproveitou para renovar e preparar o futuro com alguns jovens de então. Preferiu os "chulos" do Gary Trost, Fabio Ribeiro até voltou o Steve enfim começou o pesadelo que existe até hoje (a recuperação já se iniciou mais uma vez com Lisboa pois este ano com os jogadores que temos o titulo é quase uma obrigação).

O GLORIOSO

João Tomaz disse...

Antes de mais, obrigado.

Eu também comecei a venerar o Lisboa num jogo do Queluz.

Penso que a falta de pavilhão e a gestão "pouco profissional" não tiveram influência. O mais importante é haver competência, profissional ou não. Se as pessoas estiverem mais disponíveis, melhor. A competência é que é importante. Penso que actualmente estamos bem entregues.

O Mário Palma e os jogadores eram acima de tudo profissionais e ambiciosos. As pequenas divergências que puderam ter existido foram as normais de qualquer equipa de qualquer modalidade. Chegaram a jogar e a ganhar com 7 meses de atraso de ordenados.

O apoio era, na minha opinião, o possível. O Basket era a modalidade extra-futebol com maior orçamento no SLB.

O Prof. Jorge Araújo é mais conflituoso num treino que o Mário Palma numa época.

Quanto a 96, ganhámos a taça da liga, supertaça e taça de Portugal. Quanto à motivação, apenas estranhei o comportamento do Jean-Jacques na final dos playoffs e há que dar mérito à excelente equipa que o porto construiu ao longo dos anos. Não me esqueço do Paulo Pinto com o dedo em riste a obrigar o Marçal a concentrar-se...

Glorioso11385 disse...

Grande treinador! Quanto à comparação com Jorge Araújo, não me esqueço de algo que José Tomaz, dirigente do Benfica, me disse quando Mário Palma foi contratado ao Imortal, onde também tinha estado Jorge Araújo: "Os dirigentes do Imortal asseguram-me que o Palma é melhor do que o Jorge Araújo".
A sua capacidade de trabalho, era inexcedível, o que até o impedia de viver convenientemente os sucessos. A certa altura, salvo erro no regresso de Esgueira, depois da conquista de mais um campeonato, parecia preocupado. Questionei-o e, perante a resposta, logo percebi o que se passava: já estava a pensar na época seguinte.

Anónimo disse...

Caro Pelicano quando falei das poucas estruturas no Basket estava-me a referir aos factos que referiu dos meses e meses de ordenados em atrazo, de uma gestão pouco cuidada e feita em cima do joelho (lembra-se da rescisão de contrato do Lisboa que depois foi pago á presa), de um apoio da direcção que apesar de ter um bom orçamento não foi inovadora e por exemplo com apoios de sponsers, empresas, etc que permitissem uma qualidade para a Europa (já que tinha-mos equipa para isso) e de um bom pavilhão (veja que tinhamos que jogar em Almada e outras zonas). Nunca me referi aos jogadores pois esse eram notáveis em todos os aspectos, mas por exemplo se o 5 base era do melhor que existia na Europa (Pedro Miguel, Lisboa, Jacques, Guimarães e Mike) depois no banco era aflitivo e só um Steve Rocha e vá lá um Seixas poderiam jogar porque de resto e isso fazia toda a diferênça.
Quanto ao Prof. Jorge Araújo são opiniões (sinceramente não o via como muito conflituoso), mas continuo com a minha que era melhor que o Mario Palma até basta ver o trabalho que fez nos Andrades.
Em 96 por muito mérito dos Andrades a verdade é que em condições normais ganhariamos o titulo até pelos provas já ganhas até então. Acho que foi evidente quer um cansaço quer fisico, quer mental, como repito motivação da propria equipa. No ultimo jogo fiquei perto do nosso banco e vi um Jean Jacques complectamente a "leste", um Pedro Miguel resignado e um Lisboa cansado. Os rostos diziam tudo. Mas amigo o que critico foi a partir daí pois não se aproveitou para uma renovação da equipa apostando em jovens voltando a criar-se uma mistica muito especial, mesmo que se estivesse 3 a 4 anos sem ganhar. Não foi um chorrilho de asneiras (isso Mario Palma tem culpa) com jogadores caros, velhos que vinham pelo dinheiro e com os resultados que se viram.

O GLORIOSO

João Tomaz disse...

Concordo que houve muitos erros a partir de 96. Não nos podemos esquecer dos 3 anos do Vale e Azevedo que agudizaram ainda mais os problemas sentidos.

Uma nota em relação aos suplentes. Na altura só podia haver 2 estrangeiros pelo que os jogadores portugueses eram mais caros e não havia orçamento para tudo. Ainda assim, analizemos sucintamente alguns dos suplentes não referidos por si.

Quando o Henrique deixou de jogar houve 4 tentativas de se arranjar um suplente para o Pedro Miguel: Xana, Pina, Ricardo Jorge e Rodinhas. Todos excelentes jogadores nos clubes anteriores ao Benfica mas que não se conseguiram impor provavelmente pela falta de minutos concedidos pelo Mário Palma.
O Leiria foi um óptimo suplente garantindo pontos, ressaltos e defesa inclusivamente em jogos europeus. O Artur Cruz foi, na minha opinião, claramente desaproveitado e a prova disso foi a sua importância no campeonato conquistado no Estrelas da Avenida quando o Engelstad se lesionou. Os restantes (é possível que me esteja a esquecer de alguém) serviam para os treinos.

Quanto à equipa que o Prof. Jorge Araújo construi é preciso ter em atenção que andou 4 ou 5 anos a levar na cabeça até conseguir conquistar um título.

João Tomaz disse...

Glorioso11385: O dirigente José Tomaz foi o principal defensor do Mário Palma. Muitos não têm consciência, mas chegou a ser o seu único defensor nos centros de decisão.

Anónimo disse...

Amigo Pelicano tem razão no que diz mas mais uma vez veja que os jogadores que referiu eram interessantes mas para evoluirem tinham de jogar, de ter minutos e se o Mario Palma não os punha...nunca sairam da cepa torta (o caso do Artur Cruz é significativo).
Quanto ao Artur Leiria era de facto um excelente jogador certinho, já o seu substituto Luis Silva sinceramente sempre me pareceu sem classe e talento para jogar no clube (fez o joga da vida em 95 na negra na Luz indo para o lugar do Jacques loga aos 10 minutos) até hoje não sabia marcar um lançe livre.

O GLORIOSO

João Tomaz disse...

Sem dúvida que o Seixas e o Steve eram jogadores muito acima da média e, por isso mesmo, entravam na rotação normal da equipa.